quinta-feira, 5 de julho de 2012

Crônicas da vida normal - parte 2


      Vida Normal – parte 2
Acordei de manhã cedo para ir pro trabalho. Chegando lá, não tinha ninguém, exceto a chefia, que sempre está lá. Obs: Eu fiz chapinha.
Descobri porque ninguém estava lá. Era sábado! E nos sábados, todo mundo gosta de faltar! Quando eu descobri isto, acho que até escutei os anjinhos cantando “Aleluia”.
Planejei que iria passar o dia inteiro dormindo, mas eu tinha que fazer a revisão do carro. Levantei da cama com uma cara de zumbi daquelas. Chegando na oficina encontrei a Lauramanda, e ela me xingou por ser “metida” por ir fazer a revisão no mesmo dia que ela. Eu
fiz até um gráfico de quantas vezes ela me xingou e de quê.
Mandei ela se catar, fiz o que eu precisava fazer lá e fui embora.
Em casa, tirei a maquiagem e me atirei na cama. Dormi feito uma pedra. Dormi 4 horas.
Me lembrei que tinha que ir na casa da minha mãe. Eu só saí da cama por causa disso.
Deixei o Steve (aquele meu cachorrinho) com a Janaína.
Fui a pé. Faz dois anos que eu estou namorando o Martin. Só estou dizendo isto porque aconteceu uma coisa incrível entre nós. Você deve estar pensando “será que alguém ganhou na loteria?” ou “o que, meu deus, diz logo...”.
Ele me pediu em casamento! Yes! Ele me fez isso no meio da rua. Isso me fez pensar que ele é mais nerd do que eu pensava, mas é bom alguém ter algum defeito. Alguém perfeito? Não existe! Só Deus!
Cheguei na casa da minha mãe e ela reclamou que eu me atrasei muito. Eu expliquei tudo que aconteceu e também disse que eu aceitei. Ela não acreditou e eu mostrei o anel. Ela disse:
- Oh, Olivia querida, que emoção! Dois casamentos para eu ir!
Ela notou que eu estava confusa e logo explicou:
- A sua irmã está aqui. E ela vai se casar com o Wandercleison!
- É Walter, mãe. – Lauramanda reclamou.
Fiquei mais um tempo lá, e quando saí, as 18h, topei com uma garota.
- Me desculpe! – ela exclamou – Você está bem?
- Estou bem... Eu que peço desculpas!
- Sou Sofia. Mas pode me chamar de Shapaguina!
- Eu sou Olivia. Mas pode me chamar de Olka.
Perguntei se ela queria que eu a acompanhasse até a casa dela, e ela aceitou.
- Onde você mora... Er... Shapaguina?
- Na rua Prof. Theodoro Machado.  Você conhece?
- É a mesma rua que eu moro!
Nos despedimos e entramos nos nossos condomínios.
Liguei para a Janá e contei tudo que aconteceu. Quando terminei, ela falou:
- Ah, a Shapaguina! Ela é minha outra melhor amiga!
- E acho que a minha também! – exclamei.
- Muito legal que você vai se casar!
- Tu vai ser madrinha!
- Oba! Ai, eu tenho que desligar, porque o Steve e a Belinha estão chorando. Acho que eles querem atenção!
O Steve ia dormir na casa da Janá, numa caminha de hóspedes caninos que a Janaína fez com madeira e uma almofadinha.
De manhã, me lembrei que o Martin ia almoçar na minha casa. Chamei minha mãe pra fazer a sobremesa, porque eu sou um desastre pra isso. Só para ter uma ideia, uma vez, peguei uma receita de mousse de Bis. Quando fui pegar os Bis, eles caíram no lixo orgânico. Saí catando eles no lixo, e claro, ficou uma porcaria. Eu também me enganei com a gelatina. Pedia gelatina sem sabor, e eu me enganei e comprei uma de morango.
Quando ele chegou, eu estava fazendo churrasco na área do meu apartamento. Fomos para lá e começamos a conversar. Um tempo depois ele perguntou:
- Olivia, que cheiro de queimado é este? Tá pegando fogo!
Quando olhei para trás, o fogo estava quase no teto da churrasqueira. Peguei um balde e enchi de água. Derramei tudo na churrasqueira. Como estávamos com fome, pegamos uma faca, cortamos as bordas e comemos com gosto de queimado.
Depois, minha mãe foi servir a sobremesa. Ela fez pudim de claras. Entupimos o pratinho do pudim, mas o gosto estava HORRIPILANTE. Tinha gosto de pena com gases. E a calda de laranja parecia um plástico!
Ele foi embora impressionado com as nossas “habilidades” na cozinha.
Fui passear na rua e um cara que eu nunca vi na vida tentou me beijar. Foi meio confuso. Ele tentou saltar sobre mim e me beijar, mas eu desviei e ele caiu de cara no chão.
- Desculpa, gata. Estava indo pro psicólogo, só que tu me encantou e...
- Agora entendi por que tu estava indo ao psicólogo! – eu disse seguindo em frente. Fui pra casa da Sofia. Ela estava no Twitter. Logo ela começou a rir que nem uma hiena.
- Que é isso, Sofia? – eu disse.
- A Michelle! – ela falou, com lágrimas nos olhos de tanto rir – Ela levou um “pé na bunda” do namorado! Bem feito!
- Ai, coitadinha... – eu falei com pena da Michelle – Tem dó, Sofia, que horror!
- Ah, eu não gosto dela. Ela é intensamente bonita, tem um corpo incrível e é ótima em esportes. Este tipo de pessoa me dá nojinho.
- Vá se acostumando, porque eu a convidei pro meu wedding.
Um toró d’água começou a cair. Ficamos preocupadas com a Janá, que também foi convidada.
A Janaína chegou toda molhada e esbaforida, com três caras atrás dela, igualmente molhados. Lá estavam o meu futuro marido, o Charlie e o marido da Sofia, o Lucas. Logo ela falou:
- Todos os homens pro quarto de hóspedes! Conversa de mulher pra mulher!
 Depois que eles foram, Sofia disse:
- Vocês me ajudam a cuidar dos meus bebês, o Antônio e a Luana?
- Claro! – falamos juntas.
Cuidamos dos bebês e fomos pra casa.
Voltando pra casa, encontrei aquele cara louco que tentou me beijar. Quando o vi, apertei o passo, mas acho que ele me viu. Ele continuou me paquerando.
- Ah, linditcha, pra que insistir? – ele falou – Tu sabe que eu sou lindo!
Bati a porta na fuça dele.
                                                   ***
Passando-se meses, fui escolher meu vestido de noiva. Escolhi um lindo.
No dia, fui pro salão de beleza e encontrei a Janaína. Ela estava com um creme verde fedido na cara e com pepinos nos olhos. Ela disse que não queria parecer um ralador de queijo ambulante no meu casamento. Encontrei a Sofia também. Só que o creme na cara dela era cor-de-rosa e ela tinha morangos nos olhos. A Michelle também foi detectada por mim. O creme na cara dela era branco.
                                          ***
O Martin (o loucão. Não contei que ele se chama Martin também?) disse que o outro Martin estava com rubéola (não contei que eles são primos?). Comecei a “louquear”, desesperada. Liguei para a Janaína que disse:
- Eu vou entrar em contato com ele, e vou fazer umas perguntas.
Ela me ligou depois, dizendo que era mentira. Aquele cara é um pamonha!
Fui para o meu casamento. Agora estou casada. Fui para a lua-de-mel. A Janaína nos seguiu até o aeroporto. Nos despedimos.
A lua-de-mel foi maravilhosa! Fui pra Miami.
Voltei pro trabalho cheia de novidades pra contar. Parece que a chefia também tinha novidades:
- Gente, chegaram três estagiárias: a Andressa, a Eduarda e a Gabriela.
A Eduarda olhou pra Janaína e começou a chorar. Todos olharam pra ela, que saiu correndo até uma parte ao ar livre da empresa. Só sei que ela correu até aí porque eu a segui.
Perguntei pra ela:
- Que houve entre você e a Janaína?
- Janaína? Não é Roberta?
- A Janá tem uma irmã gêmea. Mas o que aconteceu?
- Ela roubou meu noivo. Namorávamos há um tempo. Na loja da Fiat, ele me pediu em casamento. Aí ela apareceu. Fatal, de micro-vestidinho, botas de cano alto, olho azul, cabelos louros e batom vermelho. Parecia que eles já se conheciam. Ela abanou e ele saiu em direção a ela, que estava na frente do banheiro. Imaginei que ele tivesse com uma dor de barriga repentina, mas não. Um dia depois vi os dois namorando no parque. Lukas. Lukas era o nome dele.
- Assim, com “k”?
- Sim. Ele recebeu o apelido de Lukas Safado depois disso.
- Foi só um mal-entendido. Vamos voltar.
Voltando, as garotas novas a receberam com abraços.
                                                                  ***
Uns seis meses depois, descobri que estava grávida. Começaram a surgir coisas no enxoval. A Janá me trouxe uma coisa. Um livro que me encantou: O diário da mamãe de uma menina.
Eu engravidei de uma menina (passou – se um ano). A Sofia me trouxe um ursinho de pelúcia pro nenê. O livro tinha uma lista de nomes e seus significados:

                 Nomes
                 Significado
Adriana
Latim: Nativa da cidade de Ádria
Alice
Grego: Protetora
Ana
Hebraico: Graciosa
Beatriz
Latim: Aquela que faz os outros felizes
Carla
Teutônico: Fazendeira
Débora
Hebraico: Abelha, palavra guia
Elisa
Hebraico: Consagrada a Deus
Fernanda
Teutônico: Ousada
Gabriela
Deus é a minha força
Helena
Grego: Luminosa, resplandecente
Ingrid
Sueco: Em forma de guerreira
Júlia
Latim: Cheia de juventude
Luísa
Guerreira famosa
Marina
Latim: Do mar
Natália
Latim: Nascimento
Olga
Antigo nórdico; Santa, sagrada
Paloma
Espanha; Pomba
Raquel
Hebraico; Mansa como a ovelha
Sara
Hebraico: Princesa, senhora soberana
Talita
Aramaico: Menina
Úrsula
Latim: Pequena ursa
Valquíria
Mulher de grande beleza
Yedda
Anglo-saxão: Cantora

E além da lista, tinha muito mais coisas interessantes.
Quando eu já esperei oito meses, minha família veio ajudar a escolher o nome dela:
- Dê o nome dela de... Tiburtina!
- Credo, mãe! É horrível!
- É o nome que eu e teu pai íamos dar pra você se sua tia não tivesse opinado Olivia!
- Ou de Shaniqua!
- Credo, pai!
Enfim, escolhi que ela ia ser Marina. O Martin adorou.
A campainha tocou misteriosamente. Não chamei mais ninguém além dos meus pais, os pais do Martin e a Lauramanda. O olho mágico parecia mais alto. Eu só via cabeças. Abri a porta. Dei um gritinho. Meus irmãos que eu não via há seis anos estavam lá. Minha mãe sorriu. Ela tinha convidado os quatro!
- Tom! Luzia! Artura! Odine! Que surpresa!
Nós nos abraçamos. Lauramanda foi se aproximando com passinhos de tartaruga e falou:
- Tom, meu querido irmãozinho gay, tu pode me maquiar para ir naquela festa?
- Que festa?
- Da minha gravidez de oito meses... – falou minha irmã suspirando.
- O quê? – todos falaram juntos.
- Por que não me contou? – perguntou a mãe.
- Porque eu só descobri isto ontem. Primeiro, achei que fosse só um enjoo ou uma azia. Mas quando eu fiquei barrigudaça, eu desconfiei...
- Bem que eu estranhei o barrigão. – disse meu pai.
Como minha irmã é burra! Uma pateta! Jumenta! Nunca vou dizer isso na frente dela, mas... Realmente.
Com todos estes nomes, cheguei a uma conclusão: meus pais tem um mal – gosto danado pra nomes.
                                                          ***
“Momento de felicidade intensa. Mistura de dor e alegria. É o parto.” É o que a minha tia costumava dizer. Isso é mentira. Só a parte “felicidade intensa (...) alegria.” é verdade. Ou seja:
Bem – vinda, Marina!
E o resto da minha vida, ninguém precisa saber. Ass.: Olivia Maria de Azambuja Porto