quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Mistério da Enchente


    O Mistério da Enchente
  
“Salvem as crianças e mulheres!”.  Acordei com este barulho no auto – falante. Pensei: “Que sonho estranho! Uma enchente em São Lourenço!”. Mas quando acordei, os gritos e barulhos continuaram. Minha madrasta desceu as escadas (gritando) até meu quarto:
- Rápido, Júlia! Sai dessa cama! Estamos correndo perigo! – ela quase chorava de medo.
- O que foi, Marlene? – perguntei.
- Enchente! Corre!
Subi a escada, desesperada, para o telhado da casinha de madeira.
A água batia em nossos pés. A chuva e as ondas acalmaram. Os bombeiros chegaram num bote e nos tiraram de lá, antes que o telhado ruísse.
Como nesse ano estava chovendo muito por lá, todos os sobreviventes viajaram de ônibus e barco até outra cidade. No ônibus, pensei: “engraçado. Pareceu muito rápido! As águas demoraram uns 40 minutos para abaixarem. Tenho muita sorte que as ondas não subiram mais do que a altura do telhado.” Pensei nos meus amigos: Pamela, Caroline, Paulo e Jorge. Os quatro eram muito conectados com o mundo, afinal, estamos em 3120! Eles teriam visto a notícia na internet ou na tevê. Por isso mandei um e – mail pelo meu IPhone:
“gente eu to bem. Isso qué dize q num pricisam si preocupa, ta?”
O ônibus parou nos EUA (não fiquem pensando: “ah, mas era impossível fazer isso a mil anos atrás. Mas e a tecnologia, gente?) . Bom sinal, pois moro lá. Verei os meus queridos amigos de novo!
Vi Pamela atrapalhada com umas sacolas. Desci da lotação e dei um grande abraço nela, que falou:
- Comprei umas roupitchas para você, porque tu levou um monte de roupas para São Lourenço.
- Não precisava, Pam.
- Nós ficamos muito preocupados com você! Vamos pra casa da Carol, vamos!
Todos estavam lá. Jorge começou a reunião:
- Bom dia, bom dia, gente! Algum de vocês quer aventura? Eu quero. Vou descobrir por que esta enchente aconteceu.
Todos toparam. Menos eu. Fiquei olhando, assustada.
- Vamos, Ju! – Carol pegou minha mão – Coragem, guria!
- Vocês estão loucos? Não quero me meter em mais aventuras, como a enchente!
- Por quê?
- Porque não quero morrer!
Jorge, determinado, resolveu fazer votação. A única que não quis aventura fui eu, mas como tinha LEIS hoje em dia contra grupos que fazem votação e, se um não quer, tem que ir junto. Não queria ser presa com 20 anos e ficar até os 60 na cadeia, então aceitei.
Nosso destino era:
·         Sair dos EUA e chegar até a Grécia, porque todos nós acreditamos na mitologia grega e queremos falar com os Deuses.
Primeiro pegamos o Ultra – Bus, que um ônibus (que passa pela água sem os pneus, que entram pra dentro do ônibus) que nos leva até a Rússia dos dias de hoje, que é muito mais sombria e têm muitas cavernas, coisas que não existiam na Rússia, muito antigamente.
A primeira coisa que vimos foi um mendigo. Tentei dar um dólar para ele, mas ele disse que não ia adiantar nada, porque na Rússia de 3120 usam “dolletthes”.
A pobreza era horrível! Tinha por todo lado. Até nos lugares mais ricos e chiques tinha. Jorge começou a falar que ele virou guia de turismo no final do ano passado e passou esse tempinho de férias passado (ai meu deus, quanto “pass”) guiando pessoas em viagens, e disse que ia nos guiar pela Rússia. Ele nos levou até uma caverna escura e sombria.
- Jorge? - eu perguntei, tentando disfarçar meu medo – Onde estamos?
- Eu não sei. – respondeu ele com um meio sorriso – Mas vamos descobrir.
Um uivo cortou o silêncio da noite. Caroline gritou. Um grito pra lá de fininho. Achei estranho. Carol era muito quieta.
- O que foi Carol? – Jorge riu – Está com medo?
- Sim. Se responder sua pergunta.
Jorge engasgou de tanto rir.
- Tu está com medo?
- Para de encher, Jorge – gritei, defendendo Caroline.
- Não se mete, Júlia! – Jorge gritou.
- Me meto sim!
 Pamela interrompeu a discussão perguntando:
- Cadê o Paulo?
Para trás. Paulo tinha sumido. Nos entreolhamos assustados. Os gritos de Paulo foram ouvidos. Seguimos marcas de patas de algum animal. E nos deparamos com o rapaz sendo arrastado por um lobo. Jorge não pensou duas vezes. Atirou no animal, que caiu morto no chão. Caroline, desesperada, ajoelhou – se ao lado do animal. Chorou. Seu pranto molhou o corpo do animal. Ela gritou:
- Jorge, por que você fez isso? Só existiam dois animais desta raça! Agora tem um!
- Puxa, eu não sabia! Me desculpe! Mas por que o Paulo interessou o bicho?
- Paulo estava com a carne de vaca industrial que compramos, certo?
- Certo.
- Então é isso! O lobo sentiu o cheiro da carne no Paulo, e achou que podia estar dentro dele. Mas não estava. Estava na sacola plástica.
Uns índios velhinhos nos acharam na floresta e levaram – nos até uma tribo. Estava quente para caramba. Tiramos os casacões e casaquinhos.  Os índios começaram a fazer a dança da chuva. A índia mais velha falava a nossa língua. Ela tossia bastante. Sentou – se com dificuldade em uma cadeira.
- Quem vocês são, meus filhos? – ela perguntou, tossindo. Falava com dificuldade.
- O que você tem? – Jorge perguntou.
- Câncer... – ela respondeu – Sem tratamento.
- Como assim? – Pamela perguntou para a velha.
- Não tem tratamento. Vou morrer logo.
Jorge falou:
- E nós temos que ir embora logo. Foi ótimo conhecer vocês.
- Fiquem só mais uma noite. Por favor! Eu preciso de companhia!
Ficamos. Mas não foi uma boa ideia. A velha Inusuki Tanuhuno morreu. Jorge ficou acordado com ela naquela noite. Ele disse que ela teve uma parada cardíaca, e que ele não pôde fazer nada, pois a ambulância não chegaria a tempo. A tribo toda lamentou esta perda.
Os índios acharam que Jorge havia matado Inusuki, então, nos expulsaram de lá. Aí, Pamela teve uma ideia de Jerico. Passaríamos de casa em casa, até alguém aceitar nos hospedar. Lógico que ninguém quis. Gritaram palavrões, nos empurraram pra longe e até mostraram o dedo do meio!
Até que a Carol teve a brilhante ideia de achar um hotel. Essa deu certo. Achamos um maravilhoso, na frente de um laguinho, mas não era mais na Rússia. Era numa cidadezinha perto. Tinha grama, água, comida (faz uns cinco dias que tomamos banho da última vez)...
Jorge me chamou para passear pela grama, á meia noite, onde todos estariam dormindo. Deitamos na grama e começamos a conversar sobre coisas fúteis, até que o cara começou a ficar todo estranho e irritado. Perguntei o que era e ele esticou uma arma pra mim.
- Se você prometer não contar para o resto da turma que eu continuo com a arma e que matei Inusuki, eu puxo o gatilho.
Fiquei nervosa, então prometi não contar. Mas no dia seguinte, sem o Jorge perceber, escapou. Disse tudo que ele falou, que ele fez... Mas ninguém acreditou em mim.
- Ih, Júlia, agora deu pra mentir? Vá arrumar sua mala por que daqui a duas horas partiremos para Bombaim. Não será o Ultra – Bus, iremos com dois transportes: barco e trem, desta vez. – Pamela falou, irritada. Pamela sempre acreditou em minhas mentiras (sociais ou não), mas quando falo a verdade, ela não acredita.
Ok, a viagem foi horrível. Uma chuvarada começou e quando estávamos no barco, o troço quebrou com a violência das ondas, e cada pessoa teve que remar com as mãos no pedaço de madeira. Mas (não sei como) pelo menos CONSEGUIMOS chegar a Bombaim.
A ilha estava toda enfeitada para a festa junina. Mas o número de ladrões e sequestradores era grande, então devíamos tomar cuidado.
O resto da viagem foi daí pra pior. Primeiro, o Jorge sumiu.
- Onde é que ele está, hein?
- Eu tenho um palpite – determinei – Ele se escondeu e, provavelmente, atirará na Caroline.
- Por que eu?
- Porque o Jorge discutiu contigo!
- Que asneira, Júlia. – Pamela se irritou novamente – O Jorginho é inocente!
Conheço a Pamela há anos. Sempre que ela começa a adicionar diminutivos aos nomes, é porque está apaixonada. Mas ela está me esnobando. Então, vou esnobar ela também. Vou grudar na Caroline.
Paulo gritou:
- Caroline, olha para trás!
Um cara todo de preto com uma máscara atirou na Carol. Ninguém sabia quem era. Mas eu sabia. Era Jorge. Aqueles olhos amarelados e fundos não me enganam.
- Não disse? – gritei – Foi o Jorge!
- Para Júlia! – Pamela gritou, desta vez quase explodindo – Que saco! A culpa é sempre do Jorge!
Pamela falou um palavrão no lugar de “saco”, mas não é legal botar palavrões em textos. Pode ser um mal exemplo.
- Não é minha culpa se tu está apaixonada por aquele egoísta! – desta vez, explodi. A Pam era a última pessoa com quem eu gostaria de brigar no mundo. – Você é muito boba. Aliás, todos vocês! Não percebem? Jorge só nos colocou nessa muvuca para nos matar!
Por um momento, nós duas esquecemos da Caroline deitada no chão. Apenas Paulo lembrou – se. Também, Caroline é linda. Seus olhos verdes e seu cabelo ruivo cacheado formam uma dupla linda. A Carol não morreu nem entrou em coma por cinco anos. Mas ficou paraplégica.
Mesmo com ela na cadeira de rodas, continuamos a viagem. Finalmente chegamos à Grécia. E sem o Paulo. Eu e Pamela não nos falamos. Conversei com a Carol a viagem inteira. Ela continuava linda. Tinha cartazes escritos em várias línguas: Estrangeiros, caiam fora, Get Out Strangers...
Fomos cercados por homens de togas armados com espingardas, fazendo sinais de “rua”, mas Caroline começou a falar em grego. Ela e os homens começaram a rir. Ela disse:
- Eles nos deixaram ir. Vamos até o monte Olimpo!
Mas tinha um problema. No monte só tinha escadaria. Como a Carol ia subir? Ela falou de novo com os homens de togas. Ela traduziu:
- Eles disseram que fizeram a escadaria para protegerem os deuses, pois assim, os estranhos desistiriam de ir ver os amados deuses. Mas disseram que alguém vai me carregar até lá encima. Alguém topa? Ou vamos desistir da viagem?
- Eu topo – Paulo resolveu.
Não deu certo. Os caras estavam certos. Ninguém ia aguentar subir as escadas. Entre as pausas para tomar água e descansar, levamos uma semana para subir.
- Chegamos! – gritei.
Entramos. Perguntei diretamente para Zeus:
- Por que aconteceu uma enchente em São Lourenço?
- Isto já faz um tempão menina! Afrodite sumiu, pois a humanidade não estava usando mais amor. Mas, quando voltaram a amar ela reapareceu. E vós sabíeis que amor ao contrário é Roma?
Zeus deu uma baita gargalhada.
- O que foi? Vocês não tem senso de humor?
Afrodite entrou na sala, gritando:
- Poseidon, vós esquecestes a torneira aberta de nov... Filha? Oh, minha filinha querida...
- Eu?  - Caroline perguntou.
- Sim, vós, Caroline.
- Deve haver um engano! Meu pai é ambientalista!
- Sim, casei com um ambientalista. Minha maior fraqueza. Mas você é uma semideusa com poderes de ninfa! Use seus poderes para sair desta cadeira com rodas!
Caroline começou a fazer uns movimentos com as mãos. Um matagal cresceu em volta dela. Seus trapos se transformaram num vestido verde e azul. Ela levitou seu corpo por cima da cadeira. Seus cabelos ruivos ficaram mais vibrantes. E seu olhar, mais aberto. Ok, agora sim ela está linda de morrer.
Saímos por um matagal que Caroline fez. Era lindo. Cheio de flores, borboletas, árvores de vários tipos, e bem claro.
Mas uma surpresa inesperada abalou a paz do jardim. Jorge chegou. Pamela saiu correndo para beijar o cafajeste. Ele pegou um incenso e começou a incendiar o lugar.
Os olhos de Caroline, de verde, passaram pra vermelho. Ela deu um grito. Outra mulher/fada chegou, sorriu para a gente e disse:
- Fada Aurora ao seu dispor. Ou Inusuki Tanuhuno. – ela piscou.
Jorge não aguentou e disse:
- Mas eu te matei!
- Não disse que ele matou Inusuki? – eu berrei.
A voz de Carol de normal passou para doce raivoso:
- Eu não tolero isso! Não vou deixar isto acontecer!
A voz dela ecoou pela floresta queimada. Outras (centenas) de fadas/ninfas apareceram. Todas usaram os seus poderes contra Jorge. Mas ele fez um escudo protetor que o defendeu de todos os ataques. As centenas fugiram. Ficaram só Aurora e Caroline.
Os três lutaram bravamente, até que Caroline apunhalou Jorge. Depois de matá-lo, falou:
- Itacolimnh... Itacollymacca... Hene... Calientthe! – parecia outra língua. Borboletas e pássaros rodearam - na pousaram no morto. O corpo se transformou em mais insetos, borboletas, pássaros, vagalumes...
O motivo da enchente? Não foi desvendado. Mas quem se importa? Foi uma aventura e tanto!
Caroline está feliz, morando com Paulo numa casa na árvore. Pamela está de mal comigo e com a Carol, e eu, de mal com ela. É a vida. Aliás, está na hora de pensar no meu futuro. Qual será minha profissão? Hum... Arqueóloga? Bióloga? Detetive? Fiscal de trânsito? Atriz? Roteirista? Diretora? Professora? Acho que ainda tenho um tempinho para pensar nisso. Ass.: Júlia Yara Denílson.


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